O que nas origens
era um só conjunto de técnicas, com o passar da história, foi se dispersando
até a desintegração, fragmentando-se nas centenas de tipos de Yôga que existem
atualmente.
No transcorrer de
sua história, o Yôga foi bastante influenciado por um sistema comportamental de
características patriarcais, anti-sensoriais e restritivas (brahmácharya); e,
mais tarde, por uma filosofia especulativa de característica espiritualista
(Vêdánta). Esses dois fatores foram, certamente, os maiores responsáveis pela
descaracterização que ocorreu no Yôga Moderno.
Por outro lado,
existem duas tradições que, juntas com o Yôga, são as mais antigas da Índia: o
Sámkhya e o Tantra. O Sámkhya é uma filosofia teórica; o Tantra, uma filosofia
comportamental; e o Yôga, uma filosofia prática. Na antigüidade as três
estiveram unidas, intrinsecamente, por centenas de anos, dentro de uma mesma
civilização, denominada harappiana ou dravidiana
O Yôga teve origem
no antigo shivaísmo, religião da natureza, pré-histórica, surgida de concepções
animistas que apareceu durante o período neolítico entre os povos munda
na região hoje compreendida hoje no noroeste da Índia.
O princípio do
Shivaísmo é o de que nada existe no universo que não faça parte do corpo
divino, que não possa ser um caminho para alcançar o divino.
Nada prova que a
Índia atual tenha sido o lugar de origem do shivaísmo, pois vemos seus ritos e
símbolos surgirem quase de maneira simultânea em diversas partes do mundo.
No Egito, os mitos
e lendas sobre Osíris estão ligados aos mitos shivaístas.
No entanto, foi
apenas na Índia que a tradição shivaísta e os ritos dionisíacos se mantiveram
sem interrupção da pré-história até nossos dias.
A língua e a
cultura dravidianas, que ainda hoje são as das populações de povos que
ocupam o sul da Índia, parecem ter estendido sua influência, da Índia ao
mediterrâneo, antes das invasões arianas.
Os textos gregos
falam da missão de Dioniso na Índia e os textos indianos falam da missão de
Shiva à Grécia.
A origem desse
povo denominado dravidiano ( do prakrit damila: tâmul), é obscura,
segundo a tradição teria vindo de um continente, tragado pelo mar.
Esse mito faz-nos
lembrar a lenda de Atlântida, e parece possível que outras ramificações desse
mesmo povo tenha chegado à África e ao mediterrâneo tendo lá chegado e se
desenvolvido com a denominação de dionisismo, daí a dificuldade em atribuir com
certeza um lugar de origem à revelação shivaísta ou dionisíaca.
De fato, durante o
quarto milênio a.C. ocorreu um grande movimento cultural que ia da Índia até
Portugal e está diretamente ligado à difusão do shivaísmo, é caracterizado por
uma arte naturalista que dá grande importância aos animais.
“Shiva olhou os
deuses e lhes disse: Sou o senhor dos animais...Os corajosos titãs, os asuras,
só poderão ser destruídos se todos os deuses e outros seres assumirem sua
natureza de animal. Os deuses hesitavam em reconhecer seu aspecto animal. Shiva
lhes disse: Não é uma perda reconhecer seu animal ( a espécie que corresponde
no reino animal ao princípio que cada deus encarna no plano universal). Apenas
aqueles que praticam os ritos dos irmãos dos animais, Pashupatas, podem
ultrapassar sua animalidade. Assim, todos os deuses e titãs reconheceram que
eram o rebanho do Senhor e que ele é conhecido pelo nome de Pashupati, o senhor
dos animais.” (Shiva Purana, Rudra Samhita, V, cap.9, 12-21).
Para velar pelos
animais, plantas e também pelos homens, Shiva Criou os vidyeshvaras
(mestres do saber) que aparecem como gênios das florestas, sátiros, ninfas,
fadas, anjos da guarda.
São os gênios
protetores da criação. Pashupati é o chefe desses gênios e através
deles, ele se manifesta sob todos os aspectos do mundo natural.
O caráter de Shiva
como protetor e encantador dos animais foi muitas vezes transferido
ulteriormente a outras divindades, tais como: Gopala-Krishna, Pã, Orfeu e até
mesmo Jesus, o Bom Pastor
Todos aqueles que
consideram o senhor dos animais como sua divindade tornam-se irmãos dos
animais.” ( Linga Purana, cap. 80, 56-57).
“Shiva disse; o
sagrado Pashupata Yôga, o yoga dos irmãos dos animais (através do qual pode se
dar a unidade dos seres vivos), e o Sânkhya (cosmologia) foram ensinados por
mim...Sabendo que as coisas do mundo são efêmeras, é preciso praticar sempre o
yôga do senhor dos animais.
De fato, a maior
parte das técnicas físicas do yôga é espelhada em movimentos dos animais e na
natureza.
Essa influência se
faz sentir até no kung fu, pois em suas origens constam a influência de
Bodhidharma (início do Século V), monge budista indiano. que teria ensinado
técnicas respiratórias e físicas inspiradas em movimentos animais e no
yôga aos monges do templo Shaolin.
Após as levas de
invasão ariana, que começaram por volta de 4200 a. C - povos nômades vindos das
regiões frias do nordeste europeu e asiático - Shiva foi gradualmente absorvido
pelo panteão da religião brâmane e védica tendo adentrado o hinduísmo como
terceira pessoa da trindade.
Isso resulta, por
um lado no hinduísmo ulterior, por outro na religião miceniana e grega.
“As
estátuas-menires do Alto-Adige e da Ligúria...(assim como Stonehenge e outros
monumentos megalíticos parecem derivar de um protótipo que surge em Micenas por
volta dos séculos XVI-XIV a.C.” Paolo Santarcangeli. Lê Livre dês labyrinthes,
p. 139)
O shivaísmo possui
como métodos intrínsecos o yôga e o tantrismo, constituindo uma aproximação do
mundo natural e sobrenatural.
Os princípios do
shivaísmo nos dizem que há três vias do conhecimento.e da realização, que são o
Sânkhya (a cosmologia) , o Yôga ( o domínio do homem sutil) e o Tantra, ( ritos
e práticas iniciatórias e mágicas).
O Sânkhya explica
a estrutura do mundo e o sistema da criação, o paralelismo e a interdependência
dos diferentes aspectos da matéria, da vida, das espécies, a unidade
fundamental do macrocosmo e do microcosmo, do universo e do ser vivo.
O Yôga é a técnica
pela qual, através da introspecção o ser humano aprende a conhecer a si mesmo,
a reduzir ao silêncio as divagações do seu pensamento, a ultrapassar os limites
dos seus sentidos, a remontar às fontes profundas da vida e a estabelecer
contato com as forças invisíveis que se dissimulam nele como em todos os
aspectos da criação, e que constituem a natureza profunda do ser vivo.
O corpo, inclusive
as faculdades mentais e intelectuais é apenas o suporte, uma espécie de
revestimento mas considerado como o instrumento de todas as realizações
humanas.
O Tantra é a
ligação entre o Sânkhya e o Yôga, ensina os métodos iniciatórios e mágicos
pelos quais o ser humano pode entrar em contato direto com a natureza secreta
das coisas, com o invisível, com o mundo misterioso dos espíritos e dos deuses
Os Tantras são os
textos do hinduísmo, que se referem a todos os aspectos do ritual,
particularmente àqueles que concernem ao culto da deusa, consorte de Shiva.
Shiva é o
idealizador do mundo, mas para realizar seu plano ele necessita de um poder
executivo, de uma força material (matéria – aquilo que pertence à mãe [mater]),
de uma “energia”.
Essa energia é o
aspecto feminino da consorte do deus, a Shakti.
Sem a energia
criadora representada pela deusa, Shiva é como um cadáver (shava), incapaz de
agir, de se manifestar, de realizar sua ideação de mundo.
O tantrismo
considera o princípio feminino como o aspecto eficaz, real da divindade em
relação ao homem.
Por isso a deusa é
o objeto central do culto. É o elemento feminino, presente em todo ser, que nos
liga ao mundo material.
Os Tantras
representam um método baseado, de um lado, nos princípios do Sânkhya
(cosmologia), ou ciência do macrocosmo, e , de outro, no yôga, ciência do ser
humano e do microcosmo, que são as ciências básicas da tradição shivaísta.
O Tantra, ciência
dos ritos e dos poderes mágicos, define as possibilidades de realização
fundadas nas relações do macrocosmo com o microcosmo, a resultante do Sânkhya e
do Yôga.
Citando alguns
Mestres de Yôga hindus contemporâneos que tenham de fato se iluminado, podemos
ter Ramakrishna e Aurobindo, que eram de linha tântrica. Segundo Yôgánanda, de
cada mil pessoas que seguem o sistema brahmácharya, dos invasores arianos, só
uma consegue permanecer, e de cada mil que permanecem, apenas uma atinge a
meta.
O tantrismo
opõe-se ao vedanta que é outro ponto de vista do hinduísmo, outro darshana,
pois rejeita, do ponto de vista do ser humano, a concepção do mundo como
ilusão, como Maya.
Reconhece pelo
contrário, sua realidade sob forma de potência, de Shakti.
Usando a
terminologia do shaktismo, - que é um outro nome do tantrismo, kundaliní
é a Shaktí individual que, como uma serpente de fogo, está enroscada três vezes
e meia em torno do lingam (falo), na base da sushumná.(base da coluna).
E, estando
em sono profundo, essa serpente poderá ser despertada através das
técnicas yôgis, tais como pránáyáma, bandha, ásana, dhyána
Toda a técnica do
yôga tem por objetivo o despertar do princípio feminino, da deusa serpente, a
Shakti, enrolada “em forma de espiral” (Kundaliní) no “centro da base”,
o muladhara, no início da coluna vertebral.
Segundo Pátañjali,
codificador do Yôga Clássico, a meta do Yôga é o samádhi, a hiperconsciência,
logo, sem kundaliní não há Yôga.
A base filosófica
das escolas tântricas é o conceito de Shaktí e Shiva, representando os
princípios feminino e masculino, energias de polaridade negativa e positiva,
respectivamente. Shaktí simboliza o poder dinâmico e Shiva, o poder estático.
São os dois pólos opostos que mantêm a coesão universal, sem os quais
não haveria harmonia no cosmos
A palavra Shaktí
significa energia ou força. Pode ser interpretada sob três aspectos. O
primeiro, popular, é simbolizado pelas imagens e expressado na devoção às
divindades femininas do panteão hindu, tais como Saraswatí, Lakshmí, Kalí,
Parvartí, etc. Ainda, dentro desse aspecto, a Shaktí é chamada também mãe
divina: como sendo aquela que gera, nutre e protege. O segundo, se refere à
própria mulher, como esposa ou companheira. E, o último aspecto, nos fala sobre
a energia adormecida em cada ser humano, chamada kundaliní.
A cultura
tântrica, provavelmente a única desse tipo no mundo, demonstra que a evolução
do Ser Humano acontece através da desrepressão e do prazer.
Assim o
yôga com bases tântricas originais conduz à evolução através do prazer e da liberdade.
Outro importante
provérbio tântrico está registrado no Vishwasara Tantra: “Tudo o que está
aqui, está em outro lugar; e, o que não está aqui, não está em lugar algum”.
Tal aforismo aproxima-se das últimas descobertas da Física moderna: a matéria
nada mais é que energia condensada. Aqui, a Natureza é abordada como um
organismo vivo, cuja manifestação se divide, multiplica-se e eleva-se à
infinita potência.
O principal axioma
do shaktismo, diz: Todos os deuses estão em nosso próprio corpo. Isso
significa que todos os processos químicos, biológicos e físicos da Natureza são
semelhantes, quer seja numa folha de grama em nosso jardim, quer seja num coral
fixado aos recifes de uma praia. Tudo o que está do lado de fora está também do
lado de dentro.
O objetivo final
do tantrismo é reunir os dois princípios polares, Shiva e Shakti, em seu
próprio corpo.
Pela introspecção,
o yogi descobre, em seu próprio corpo, a existência de certos centros ligados
às faculdades sutis.
Esses centros são
chamados de engrenagens (chakras) ou lótus (padma).
As vivências são
compostas por:
Pújá
Pújá pode ter
vários significados, tais como, oferenda, honra ou retribuição de energia ou de
força interior . É uma forma natural e instintiva de retribuição.
O pújá faz parte
de todas as tradições orientais. Ele se caracteriza por uma oferenda, de
energia, amor, carinho, lealdade, e votos de saúde, prosperidade e felicidade.
Mudrá
Mudrá significa
gesto, selo ou senha. No Yôga, mudrá designa os gestos reflexológicos, simbólicos
ou magnéticos feitos com as mãos.
Conforme
Shivánanda, a presença de mudrá, pújá e mantra, caracteriza herança dos
Tantras. O Educador DeRose, no livro Faça Yôga Antes Que Você Precise, diz
“Os mudrás atuam por associação neurológica e por condicionamento
reflexológico. Não podemos negar um componente cultural, que reforça ou atenua
o efeito dos mudrás. Sua influência na esfera hormonal é inegável... Um fato
curioso e que só pode ser atribuído ao inconsciente coletivo é a ‘coincidência’
de que, em épocas diferentes, hemisférios diferentes, etnias e culturas
diferentes, os mesmos gestos são observados com o mesmo significado... Os
mudrás do hinduísmo são originários da antiga tradição tântrica e tanto o Yôga
quanto a dança clássica hindu - o Bhárata Natya - utilizam-se deles. Nos Yôgas mais tardios essa arte ficou praticamente
extinta, limitando-se a uns poucos mudrás.”
Mantra
Mantra pode ser
traduzido como vocalização. Compõe-se do radical man (pensar) + a
partícula tra (instrumento). Alguns mantras constituem-se de várias
sílabas, palavras e notas musicais, sendo denominados kirtans. Temos nessa
categoria, por exemplo, o Shiva Mantra, o Gáyatrí Mantra, o Maha Mantra, etc.
Outros tipos podem ter uma só palavra, uma só sílaba e uma só nota musical. Os
mantras, em geral dessa última categoria, quando são vocalizados repetidamente
denominam-se japa (repetição). As fórmulas mântricas mais potentes são aquelas
que não possuem sentido literal, nem tradução, nem significado e carregam uma
força ancestral capaz de interferir no psiquismo humano; e ainda, muito além
disso, transformam a matéria, em geral. A combinação dos sons é uma arte que
foi desenvolvida, empiricamente, pelos Mestres de Yôga da antiguidade, que viviam
em contato mais efetivo com a Natureza. O mantra mais importante é o ÔM
ÔM
Texto do Educador DeRose, extraído do Faça Yôga Antes Que Você
Precise.
ÔM é o símbolo universal do Yôga, para todo o mundo, todas as épocas e
todos os ramos de Yôga. Aquele desenho semelhante ao número 30 que aparece em
quase todos os livros e entidades de Yôga, é uma sílaba constituída por três
letras: A, U e M. Pronuncia-se ÔM. Um erro comum aos que não conhecem Yôga, é
pronunciar as três letras “AUM”. Traçado em caracteres, é um yantra.
Pronunciado, é um mantra. Há inúmeras maneiras de pronunciá-lo para se obter
diferentes resultados físicos, energéticos, emocionais e outros.
ÔM não tem tradução. Contudo, devido à sua
antiguidade e amplo espectro de efeitos colhidos por quem o vocaliza de forma
certa, ou o visualiza com um traçado correto, os hindus o consideram como o
próprio nome do Absoluto, seu "corpo sonoro".
Sendo o mantra mais completo e equilibrado, sua
vocalização não apresenta nenhum perigo nem contra-indicação. É estimulante e
ao mesmo tempo aquietante, pois consiste numa vibração sáttwica, que contém em
si tamas e rajas sublimados.
Não podemos negar que o ÔM seja um símbolo muito
poderoso. Ele é forte pelo seu traçado yântrico em si, pela sua antiguidade, seus
milhares de anos de impregnação no inconsciente coletivo, pelos bilhões de
hindus que o usaram e veneraram, geração após geração, durante dezenas de
séculos, desde muito antes de Cristo, antes de Buddha, antes da civilização
européia existir e, durante esse tempo todo, toda essa gente fortaleceu a
egrégora do ÔM!
PRÁNÁYÁMA
Expansão da bioenergia através de respiratórios
Prána significa bioenergia; ayáma, expansão,
largura, intensidade, elevação. Pránáyáma designa as técnicas, quase sempre
respiratórias, que conduzem à intensificação ou expansão do prána no organismo.
Prána
Prána é o nome genérico pelo qual o Yôga designa
qualquer tipo de energia manifestada biologicamente. Em princípio, prána é
energia de origem solar, mas podendo manifestar-se após a metabolização, ou
seja, indiretamente, sendo, então, absorvido do ar, da água ou dos alimentos. O
prána, genérico, divide-se em cinco pránas, que são: prána, apána, udána,
samána e vyána. Estes subdividem-se em vários subpránas.
O prána é visível. Num dia de sol, faça pránáyáma e
fixe o olhar no vazio azul do céu. Aguarde. Assim que o aparato da visão se
acomodar você começará a enxergar miríades de minúsculos pontos brilhantes
incrivelmente dinâmicos, que cintilam descrevendo rápidos movimentos circulares
e sinuosos. Ao executar seus respiratórios, mentalize que está absorvendo essa
imagem de energia.
Shuddhi
Uma purificação do
tantrismo, é o chamado bhúta shuddhi que significa purificação dos elementos.
Uma variação de bhúta shuddhi, utilizado e desenvolvido pelo Yôga tântrico,
consiste na purificação das nadís (meridianos ou correntes por onde circula a
bioenergia ou prána), seja através de técnicas tais como mantras, pránáyámas,
kriyás, ásanas; seja através de uma seleção alimentar e de uma reeducação das
emoções, para que o praticante não suje seu corpo com detritos tóxicos de
sentimentos como o ódio, a inveja, o ciúme, o medo, etc.
Kriyá
Atividade de purificação das mucosas
Kriyá significa atividade. Os kriyás
são técnicas de purificação típicas do Yôga Antigo. Consistem em uma
verdadeira arte de limpar o corpo, por fora e por dentro, atentando para
filigranas de fazer corar qualquer um de nós que se supusesse uma pessoa
asseada.
Para perplexidade do arrogante ocidental moderno,
os kriyás foram elaborados numa época em que a maioria dos povos hoje
tidos como cultos nem tomava banho, nem escovava os dentes. Nessa época, os yôgis
já estavam mais preocupados com o fator higiene do que nós hoje em dia, mais
que todos os povos de qualquer época.
Eles sabiam, por exemplo, que não adianta só lavar
o lado de fora, a face visível do corpo, se deixarmos imunda a parte que não é
vista. Tinham consciência de que isso não é lá muito honesto, pois parece-se
muito com jogar a sujeira para baixo do tapete. Só que o tapete, nesse caso, é
o nosso corpo!
Ásana
Técnica corporal, firme e agradável
Ásana é toda posição firme e agradável (sthira
sukham ásanam). Essa é a definição ampla e lacônica do Yôga Sútra,
capítulo II, 46. Segundo tal definição o número de ásanas é infinito.
Outra frase, esta atribuída a Shiva, confirma a de
Pátañjali: há tantos ásanas quantos seres vivos sobre a Terra.
Outros, porém, limitam o número de ásanas em
84.000, dos quais 840 seriam os mais importantes e, destes, apenas 84
fundamentais. No livro Faça Yôga Antes que Você Precise do Mestre DeRose,
estão relacionados mais de 2.000 ásanas. É a maior compilação já realizada na
História do Yôga em todo o mundo.
Mas o que é ásana, afinal? Ásana é a técnica
corporal que, para muita gente, melhor estereotipa o Yôga. Isso ocorre devido
ao fato consagrado de que, dentre todas as demais técnicas do Yôga, a única
fotografável, filmável e demonstrável em público é o ásana. Você poderia
fotografar yôganidrá, filmar pránáyáma, ou demonstrar mudrá... mas não teria
muita graça para o público
leigo, a menos que fossem combinados com os ásanas.
Assim, este anga (parte) acabou mais conhecido.
Ásana é técnica corporal, sim, mas não
exclusivamente corporal. Nada a ver com ginástica, nem com Educação Física. As
origens são diferentes, as propostas são
diferentes e a metodologia é diferente. Por isso, em Yôga não precisamos de
muitas coisas que são fundamentais na
Educação Física como, por exemplo, o aquecimento muscular. Em Yôga Antigo não
utilizamos o aquecimento muscular antes dos ásanas.
Por economia de palavras as pessoas costumam
referir-se ao ásana exclusivamente pelo seu prisma corporal. Contudo, a técnica
não merece o nome de ásana, a menos que incorpore outros elementos.
Se for exercício
físico não é Yôga. Ásana tem que ter três fatores:
1. posição;
2. respiração
coordenada;
3. atitude
interior.
Yôganidrá
Técnica de Descontração
Yôganidrá é o relaxamento que auxilia o yôgin na
assimilação e manifestação dos efeitos produzidos por todos os angas. A eles,
soma os próprios efeitos de uma boa descontração muscular e nervosa.
Não confunda yôganidrá com shavásana. Alguns tipos
de Yôga não possuem em seu acervo a ciência da descontração denominada
yôganidrá, que é de tradição tântrica, e encerram suas práticas com o
shavásana. Este, como o próprio nome já diz, é apenas um ásana, uma posição de
relaxamento. O yôganidrá aplica não apenas a melhor posição para relaxar, mas
também a melhor respiração, a melhor inclinação em relação à gravidade, o
melhor tipo de som, de iluminação, de cor, de perfume, de indução verbal, etc.
Antes de prosseguirmos, vamos precaver-nos contra
um equívoco claudicante. É considerada gafe muito séria confundir Yôga com
relaxamento. Como você já percebeu, até este ponto já consumimos uma quantidade
de páginas e ainda não falamos desse assunto, a não ser en passant. Na
verdade, só nos últimos tempos é que o Yôga foi associado a conceitos como paz e tranqüilidade. Nas escrituras antigas
o Yôga sempre esteve ligado a idéias de força, poder e energia. Jamais à calma
ou relaxamento. Isso é coisa da sociedade de consumo. O conceito popular surgiu
uma vez que tem muita gente lecionando sem ser formada. E essas pessoas
conseguem trabalhar sem qualquer habilitação já que o consumidor não lhes cobra
um certificado de formação profissional.
A que se deve essa distorção? Deve-se à
desinformatite aguda. A mesma que leva as pessoas a associar Karatê com alguém
que dá um grito e quebra uma tábua. Isso é uma caricatura. A imagem que as
pessoas têm do Yôga também é uma mera sátira que não faz jus à estatura da
nossa filosofia de vida. O Yôga requer muito menos paciência que qualquer
esporte ou arte. Por outro lado, a relação custo/benefício é excelente, por
exemplo, na intensidade, rapidez e segurança com que atua, proporcionando
flexibilidade corporal, fortalecimento muscular e vitalização de toda a
estrutura biológica.
Se uma pessoa aprende a
respirar melhor, administrar o estresse, concentrar-se melhor, trabalhar o corpo, alongando a musculatura, melhorando a postura, beneficiando órgãos internos, recebe um
vigoroso incremento de saúde generalizada. Com a aquisição de tanta energia, os
efeitos logo extrapolam o plano denso e começam a atuar no setor mais sutil
como o desenvolvimento de chakras (centros energéticos), o despertamento da
kundaliní (poder da libido) e suas conseqüentes paranormalidades.
Daí à meta, que é o samádhi, é um passo.
A parte mais sutil e interna só é desenvolvida se o
praticante desejar. Caso contrário, ele se restringe ao trabalho orgânico que é
a base de tudo. Como você pode perceber, nesse universo de técnicas e de
efeitos, o relaxamento é uma parte insignificante no cômputo geral.
Nyása
Nyása significa identificação. Consiste num recurso de origens
tântricas que visa a produzir um fenômeno muito peculiar em que o praticante se identifica de tal maneira com o
objeto da sua concentração que passa a possuir as características desse
objeto. Terminado o nyása, as características cessam. Contudo, se o yôgin[1] praticar
sistematicamente nyása sobre um mesmo objeto, gradativamente suas
qualidades vão sendo incorporadas pelo praticante.
Assim, se o sádhaka pratica nyása com o seu Mestre, vai
compreender melhor o ensinamento dele. Passa a incorporá-lo como seu. É
possível executar nyása, não apenas com pessoas vivas ou mortas, mas
também com objetos da Natureza, tais como uma flor ou uma pedra. E, ainda, com
egrégoras e com seres mitológicos.
Há várias formas de nyása.
pratyáhára
Abstração dos sentidos
A abstração dos sentidos é um fenômeno que todo o mundo já experimentou
muitas vezes. Ocorre, por exemplo, quando você está assistindo a uma aula que
lhe interessa e não escuta os ruídos circundantes, como uma buzina, campainha,
pessoas falando. O mesmo ocorre quando você deixa de escutar a música ambiente,
o ruído do ar condicionado, etc.
Denominamos pratyáhára consciente quando o fenômeno torna-se voluntário.
Por exemplo, você está na sala e decide não escutar mais a música
ambiente ou o ruído da rua.
Quando se trata de som, é mais fácil de dominar.
Depois, os exercícios passam a ser feitos com os outros sentidos: visão,
olfato, paladar e tato.
Não precisa ficar preocupado. Não se trata de desenvolver nenhuma
anomalia, mas tão simplesmente de dominar os seus sentidos para desligá-los,
tornar a ligá-los ou mesmo aguçá-los, conforme melhor lhe aprouver. Já é um início
de desenvolvimento de siddhis, as paranormalidades.
Dháraná e Dhyána
Dháraná traduz-se
como concentração; e dhyána, como contemplação ou meditação.
A meditação é o estágio mais avançado da concentração.
Conforme descrição
de uma escritura tântrica da Idade Média, o Ghêranda Samhitá (Cap. VII,
2-8), deve ser feita da seguinte forma: “Imagine o praticante que há um grande
oceano de néctar em seu próprio coração. E no centro dele há uma ilha de pedras
preciosas, cuja areia está salpicada de brilhantes. Por todos os lados
encontram-se árvores frondosas, carregadas de flores e frutos tenros. No meio
do arvoredo deve ser imaginada uma enorme e antiga árvore com quatro ramos
(representando os quatro Vêdas), e que está também carregada de flores e
frutos. As abelhas zumbem e os pássaros cantam... Sob essa árvore deve ser
visualizada uma pequena plataforma com um belo trono confeccionado de pedras
preciosas. E sobre esse trono, está sentado o Ishtadêvatta, cujas formas,
vestimentas, cores e adornos já haviam sido previamente descritos e ensinados
pelo Mestre do praticante”.
O tantrismo se
utiliza de imagens e de formas mitológicas da tradição hindu,
possibilitando ao praticante concentrar-se e meditar no seu objeto de
reverência ou devoção. A partir do momento em que ele ultrapassa essa fase,
ampliando ainda mais o dhyána, poderá alcançar um outro estado de consciência
denominado samádhi. Nesse ponto, ele se torna um yôgin.
Fontes:
Yôga, SámkHya e
Tantra do mestre Sérgio Santos.
Faça Yôga Antes
que Você Precise – Mestre DeRose
Shiva e Dioniso –A
Religião Da Natureza e do Eros, Alain Daniélou
O Cálice e a
Espada, nosso passado, nosso futuro, Riane Eisler
O Herói de Mil
Faces – Joseph Campbell