Por Daniel Jordão
Queridas deusas e amigas especiais hoje temos um post especial que fala de
diferentes formas de amor.
Palavra essa retratada por artistas, enfeitada por poetas, discutida
por filósofos, enfim vamos debruçar nosso tempo para saber um pouco mais.
"As palavras seguintes, em grego, são Pathé e Mania.
Ovídio escreveu “ A Arte de Amar” que é a arte de evitar tornar-se amoroso.
Porque para os antigos gregos e romanos, estar amoroso é uma doença. É uma
possessão. “A Arte de Amar” de Ovídio é a arte de evitar cair neste estado de
possessão.
Traduzimos a palavra Pathé por paixão e ela está na
origem da palavra Patologia. É interessante verificar que, na tradição grega,
algumas formas de amor são formas de patologia, são formas de possessão, de Mania,
como por exemplo: maníaco-depressivo. A paixão faz-nos passar por estados
extraordinários, maravilhosos, mas pode ser também um inferno, pelo ciúme que
desencadeia.
Este amor não é de consumo, não é um amor devorador, mas é um
amor de posse, de dependência e também de necessidade. Aqui, o amor não é um
dom, é uma necessidade, uma solicitação. Às vezes, o que chamamos de amor não é
senão posse, dependência, necessidade. Esta forma de amor é uma forma de
sofrimento.
Na cultura ocidental, pelo número de canções e de romances
tristes que ouvimos e lemos, temos a impressão de que não existe amor feliz.
Todas as histórias de amor são, ao mesmo tempo, histórias apaixonadas,
possessivas, ciumentas e, freqüentemente, dolorosas.
Depois vem a palavra Éros, que expressa não somente um
amor de solicitação e necessidade, mas também de desejo. Éros é um jovem
deus. É ele que dá asas ao nosso falo, à nossa necessidade e à nossa libido. Éros
é já uma forma muito evoluída de amor. Não estamos mais no consumo que
caracteriza a criança, em possessão, dependência, solicitação e necessidade que
caracterizam a criança e o adolescente, mas começamos a viver uma sexualidade
adulta. Um amor de uma pessoa por outra, desejando-a e maravilhando-se com ela.
Para Platão, Éros é o amor da beleza, o amor da grandeza
que nos falta. Já falamos do pé alado. Pois bem, Éros é o sexo alado, o
sexo que encontra suas asas. E, atualmente, a palavra Éros está muito
próxima da palavra Pornéia.
A palavra Storgué pode ser traduzida como ternura e Harmonia
que é uma palavra muito bonita para falar de amor. É uma maneira de harmonizar
o seu ser com o ser do outro. Sri Aurobindo dizia que os problemas entre os
seres humanos são problemas de ritmo. Nós não vivemos no mesmo ritmo. É uma
experiência muito bela harmonizar sua respiração ( seu Sopro), com a respiração
do outro.
Esta harmonia entre duas pessoas tem como conseqüência uma
cura da terra. Os antigos chineses diziam que, da harmonia entre o homem e a
mulher, da harmonia entre os dois seres, depende a harmonia do Universo.
Não estamos mais ao nível da necessidade, da paixão, nem mesmo do desejo.
Estamos no mundo da harmonia e, pouco a pouco, nos aproximamos da compaixão.
Chegamos à palavra Philia que é muito interessante.
Vocês a encontram em Filosofia _ o amor à sabedoria -, Em Filantropia – o amor
aos seres humanos. Em grego, distinguem-se diferentes formas de Philia.
A Philia Physiqué é o amor parental, a amizade entre
parentes. O amor da mãe ou do pai pela sua criança e vice-versa. É, igualmente,
o amor entre irmãos. Este, às vezes, é um amor difícil, porque a inveja, a
concorrência vem tudo destruir, mas, como diz Rousseau, “um irmão é um amigo
que a natureza nos dá”. Esta é uma forma de relação muito preciosa.
Philia Zeiniqué é o amor da hospitalidade, o respeito
aos outros, o respeito por aqueles a que se recebe. Temos aqui uma qualidade de
relacionamento que é diferente das relações familiares. Não há a mesma
familiaridade, mas pode haver a mesma profundidade e pode mesmo ser mais
profundo. Temos amigos com quem temos relações mais íntimas que com nossos
irmãos, irmãs e pais.
A Philia Etairiqué é o verdadeiro amor-amizade, entre
dois Egos, duas pessoas. É o amor do dar e do receber, uma relação de
confiança ajuda, parceria.E diz o provérbio que aquele que tem um amigo é mais
rico que aquele que tem um reino. Porque podemos viver com este amigo o que
temos de mais humano.
A Philia Erotiqué é também uma amizade, um amor com
respeito um amor que respeita a liberdade do outro, é uma espécie de
amizade-amorosa. Não é muito fácil de entender porque não é paixão, não é
dependência, mas há uma qualidade de ternura, de harmonia, de grande respeito e
atração que faz dela uma amizade muito profunda.
Disse-lhes que, às vezes, misturamos as formas de amor. Quando
a Philia Psiqué se mistura com a Philia Erotiqué, há uma forma de
incesto. Quando a Philia Zeiniqué, se confiunde com a Philia Erotiqué,
esquece-se o respeito, a distância que se deve àquele a quem se recebe
como um hóspede. Não podemos exigir do hóspede uma intimidade que supõem
um conhecimento maior, com partilha do seu espírito e do seu psiquismo, ou
mesmo com manifestações ao nível do corpo.
Há ainda outras palavras para designar o amor. A palavra Énnoia
quer dizer o dom , a doação e, às vezes, o devotamento. É uma qualidade
de amor que manifesta uma grande generosidade do coração. É a libido, a energia
vital que se manifesta ao nível do coração.
Kháris significa gratidão. Ter gratidão pela
existência do outro. Agradecer ao outro porque ele existe e maravilhar-se pela
sua existência. Não sei se alguma vez já lhes agradeceram porque vocês existem.
Ë um grande presente. E freqüentemente, uns com os outros, faltamos com a
gratidão.Vivemos na ingratidão. Não sabemos reconhecer as doações que nos são
feitas. Somos como grandes bebês a quem tudo é devido, tudo é normal.
Finalmente, chegamos à última palavra desse vocabulário grego,
Ágape. Podemos traduzi-la como a graça ou a gratuidade. Ambas têm a
mesma etimologia. É esta gratuidade do amor em que se ama por nada, por causa
de nada. Não sei se vocês viveram esta experiência: amar sem ter nada de
particular para amar. Amar não a partir de sua carência, mas amar a partir de
sua plenitude. Amar não somente a partir de sua sede, mas amar a partir de sua
fonte, de sua fonte que corre.
A palavra amor tem sentidos bem diferentes. Não é preciso
opô-lo uns aos outros. Há uma criança que tem fome e sede, um adolescente que
pede para ser reconhecido, nomeado, chamado. Não podemos esquecer o desejo que
nos habita. Somos igualmente capazes de harmonia e de ternura e seria uma
lástima nos privarmos da amizade, desta troca, deste partilhar, desta
capacidade de doação e de perdão que habita em nós. E devemos fazer também a
experiência do que há de graça, de gratidão e de gratuidade em nós. Fazermos a
experiência de Deus em nosso interior.”
Fragmento de: O Corpo e Seus Símbolos: Uma Antropologia
Essencial , Editora Vozes, de Jean-Yves
Leloup, cristão ortodoxo, fundador do instituto para o encontro e o Estudo das
Civilizações e do Colégio Internacional dos terapeutas.
Traduziu e comentou também os evangelhos apócrifos de Tomé e
Maria Madalena.
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