"A jornada rumo à totalidade não é algo que se possa fazer da noite para o dia. É uma dança composta de vários passos, com muitos parceiros, muitas voltas e rodopios, muitas músicas, muitos estilos. Ela é imprevisível. E leva tanto tempo quanto for necessário."

A respiração no processo da consciência corporal


  Por Andréa Araújo - Orientadora: Dra.Rita de Cássia Franco Antunes -Unesp (B auru)

Projeto de monografia apresentado  como requisito  parcial  à  disciplina “Projeto de Formatura”, coordenado pelo  Professor  Dr.  Henrique  Monteiro, no  curso de Licenciatura em Educação Física.

         O ato de respirar se dá na hora do nascimento e assim, ininterruptamente, até a morte. O ar que inspiramos percorre todas as nossas células, nutrindo-as e irradiando o oxigênio por todo o nosso organismo, indispensável à nossa sobrevivência. Não importa o tipo de atividade que realizamos, seja andar, trabalhar, dançar ou descansar; todas elas não ocorreriam, não fosse o extraordinário sistema respiratório.
Durante toda a vida, inalamos e expiramos. Em média, um adulto normal inala uma dose de meio litro de ar, aproximadamente vinte mil vezes por dia, sendo-lhe possível ficar sem comer ou beber por alguns dias, mas sem ar, só o consegue por apenas alguns minutos, após o quê, as células morrem.
Segundo Reich, citado por Gama & Rego (1994),  respirar menos significa menos oxigênio disponível para os processos vitais, significa menor mobilidade torácica e abdominal, menor consciência de si e menor contato com a própria pulsação.
Não se conhece outro planeta com o tipo de vida do nosso, porque esta só se concebe em presença de oxigênio. Em todos os seres vivos da Terra, de acordo com as adaptações biológicas, da ameba até os mamíferos, os mecanismos respiratórios são fundamentais para as funções vitais e para a existência das espécies.
No corpo humano a respiração acontece sem que estejamos atentos a ela. É um processo automático, mas que podemos modificar voluntariamente, influenciando e controlando o fluxo respiratório. A mudança na respiração pode reduzir ou aumentar a atividade do sistema nervoso, desencadeando respostas de relaxamento ou de “stress” (Borysenko, 1987).
Nos dias de hoje com a parafernália do trânsito, com o desenfreado desenvolvimento tecnológico, com a violência urbana, com todo o caos ao qual somos submetidos constantemente, a última coisa em que estamos interessados é em prestarmos atenção ao nosso corpo, muito menos à nossa respiração. Com essa desatenção, bloqueamos significativamente a entrada e a saída de ar. De acordo com vários autores como Gaiarsa (1987), Lowen (1982), Sky (1990), dentre outros;   há evidências de que isto faz com que acumulemos tensões no nosso organismo; impedindo nossos corpos de vivenciarem a plenitude da vida.
 Privando nossos corpos de uma troca permanente de energia, ficamos esgotados, atribuindo muitas vezes a uma infinidade de fatos e pessoas a causa dos efeitos maléficos desta privação. Tudo isso acarreta grandes danos à nossa saúde, prejudicando severamente nossa qualidade de vida.
Torna-se necessário captar  a energia a fim de manter a integridade das funções orgânicas. Em cada respiração, estamos juntando e modificando a matéria prima dos nossos corpos e mentes e; quanto mais profunda e continuamente respiramos, mais energia acumulamos e maior possibilidade para transformação física e mental adquirimos (Sky,1990).
A consciência corporal está diretamente ligada à percepção das tensões corporais e à dissolução das mesmas. Atividades específicas, realizadas com a devida atenção nas partes envolvidas em dada movimentação corporal, podem gerar concentração  e uma respiração profunda; contribuindo para o autoconhecimento do praticante.
 As tensões acumuladas não desaparecem por si só, faz-se necessário a captação da energia e da  consideração do modo como isso ocorre ao longo dos anos em nossa vida. Respirar nos mantém no centro da tensão energética até que entremos em contato com a origem real da contração e optemos conscientemente por modificar esse fato (Sky , 1990).
Os sentimentos e emoções que permeiam nossas ações, determina o modo como respiramos de acordo com a situação.  Qualquer emoção experimentada, em qualquer momento, “...e que não foi exprimida, fica presa dentro do corpo, permanece enquanto memória em tecido muscular enrijecido e forma uma carapaça para o corpo “ (Watson & Drury ,1987, p.45).
A atenção na respiração, parece ser fator primordial para que o corpo aprenda a notar o padrão de respiração, e seja capaz de mudá-lo, quando esse padrão produz tensão, transformando-o em relaxamento (Borysenko, 1987).
Destacando Sky (1990) os padrões de contração e todas as suas manifestações corporais são sempre retenção de energia, os quais interferem e atrapalham nossos afazeres diários. Em cada padrão de contração desenvolvido existe um tipo de respiração predominante;  através de uma respiração profunda e consciente, a origem da tensão é tocada, movimentada e resolvida. Libertar esse padrões de contração é estar disponível para vida, é adquirir uma movimentação mais livre, fluída, solta, é aprender a manter conscientemente  o fluxo livre e extensivo da energia.
Assim :”a função principal e essencial da respiração é a recepção e o relaxamento. A cada inspiração nós nos abrimos, atraímos, conduzimos e então recebemos a energia vital e espiritual do universo. A cada expiração nos entregamos, relaxamos, irradiamos em forma de amor e então liberamos todas as energias pessoais dentro do relacionamento universal” (Sky, 1990, p.109).
                       
2 - JUSTIFICATIVA

             A respiração no processo da consciência corporal  está relacionada com o grau de importância que ela têm durante toda a vida das pessoas. A partir do desenvolvimento de padrões de contrações ocorrem os bloqueios energéticos que podem impedir, significativamente, uma fluida movimentação corporal, formando estereótipos (Kabbach, 1995).
Segundo Sky (1990), a qualidade, o ritmo, a profundidade, a intensidade, a conduta física e a concentração mental de cada respiração contribuem precisamente com o movimento e a incorporação da energia para o interior de nossas vidas.
Diante da diversidade de corpos com os quais nos deparamos no exercício da profissão em Educação Física, notamos a pouca atenção que é dada a esse aspecto, tanto pelos praticantes, quanto pelos próprios profissionais da área.
Se, realmente, os exercícios respiratórios desencadeiam relaxamento muscular gradativo,  levando os músculos, os ossos e as  articulações ao processo da consciência corporal, isso refletirá nitidamente nos sentimentos e nas emoções dos indivíduos (Borysenko,1987). A compreensão do processo de sensibilização e conscientização corporal, visando ao contato mais íntimo com o próprio corpo, com o ser e com os outros, certamente nos obriga ao estudo da respiração sob diversas óticas.
Muitas áreas afins à Educação Física, estão procurando desvendar os caminhos tortuosos referentes ao corpo, trazendo à tona aspectos fundamentais para o autoconhecimento, para a busca e recuperação da vitalidade, para o  bem estar e para  a melhoria da qualidade de vida. Os profissionais  envolvidos nessas áreas poderão se utilizar do presente estudo para enriquecer a qualidade do trabalho que desenvolvem, visando o benefício proveniente de um conhecimento mais profundo e detalhado acerca da respiração.



            
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORYSENKO, J. Cuidando do corpo, curando a mente. Rio de Janeiro: Record,
       1987. 233 p.


GAIARSA, J. A . Respiração e circulação. São Paulo: Brasiliense, 1987.  301 p.


GAMA, M.E.R., REGO, R.A . Cadernos reichianos: consciência de  si    através
      do corpo. São Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, v .1, 1994. 75 p.


KABBACH, C.  Ação  respiratória:   formação  de  estereótipos   e    abordagem
      terapêutica.  São Caetano do Sul,  1995.   63 p.  (Monografia apresentada à
      Universidade de Formação,  Educação  e Cultura, como  exigência parcial à
      obtenção do título  de  Especialização  (Lato Sensu)  em  Dança - Educação
      Física).


LOWEN, A .  Bioenergética.  6 .ed. São Paulo: Summus, 1982. 299 p.


SEVERINO, A . J. Metodologia do trabalho científico. 19. ed. São Paulo: Cortez,
      1993. 252 p.


SKY, M.  Respirando: expandindo seu poder e energia. São Paulo: Gente, 1990.
      135 p.


WATSON, A, DRURY, N. Musicoterapia : um caminho holístico para a harmonia
       interior.  2. ed. São Paulo: Ground, 1990. 140 p.